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  • Marcela Pavan

Reflexões psicológicas sobre o filme “A culpa é das estrelas”.


“Você me deu uma eternidade dentro dos nossos dias numerados, e sou muito grata por isso.” Hazel

Logo após assistir o filme “A culpa é das estrelas” fiquei, além de emocionada, intrigada por não conseguir definir naquele momento o que tinha de tão tocante no filme que fez grande parte do público se emocionar intensamente. Depois de algum tempo as hipóteses começaram a surgir mais claramente. Como psicóloga sei que tudo o que nos toca fortemente, seja na arte ou na vida, fala muito de nós mesmos, então comecei a refletir o que teria no filme que poderia ser comum ao coletivo, o que o filme aborda que consegue nos tocar tão profundamente? Algo que seja não só um aspecto comum a todos, mas que fale do nosso ponto sensível: a finitude. Mas, falar que o filme retrata somente a perspectiva da morte não seria justo. A morte foi o fio condutor do filme, o que nos sensibiliza a ponto de pararmos um pouco e pensarmos na imensidão da vida e aprender com isso. Nesse aspecto o filme retrata também beleza, amor e ricos ensinamentos sobre o que vale a pena ser vivido, hoje. Toda essa junção de elementos supera os clichês e torna o filme verdadeiramente emocionante.

O filme conta a história da adolescente Hazel com um grave problema de saúde e o seu relacionamento com Gus, além da relação dela com seus pais. Separei três pontos na história que cabe uma reflexão psicológica, mas o filme traz muito mais possibilidades de reflexões. Cada um vai ser atraído para as questões que lhe são mais relevantes, principalmente quem já vivenciou a morte de alguém querido. Para mim foram esses os pontos mais interessantes:

  1.  A dor precisa ser sentida.

Essa é uma frase destacada no filme. Falando especificamente da dor emocional, que pode se tornar física, é interessante pensar como nos dias de hoje evitamos a todo custo pensar e sentir a dor, parece não haver muito espaço para isso, toda vez que alguém conta algo triste é comum ouvir “não fica assim, já, já isso passa”, “não sofra por isso, é bobeira”. Parece que há um desconforto geral com o assunto e por isso pouca disposição para suportar emocionalmente o sofrimento do outro.  Muitas vezes a pessoa com uma dor emocional  só precisa poder chorar, mostrar sua fraqueza e ser compreendida, desabafar e encontrar alguém que legitime a sua dor. No consultório quando vejo alguém falar da morte de alguém muito querido com serenidade, é sinal que aquela pessoa teve a oportunidade de elaborar, de falar e viver isso, teve espaço para “digerir” emocionalmente a separação. Isso vale para qualquer morte, a morte de um relacionamento, a morte de uma etapa da vida… Precisamos encontrar espaço na vida para elaborar as mortes.

  1. A impotência diante de alguns fatos da vida.

Esse ponto é um dos mais importantes. No filme não se espera a cura, o que importa é viver os dias que se apresentam sem saber quantos ainda haverá pela frente. Independentemente de alguma doença terminal a nossa vida também não é assim? Quem sabe quantos dias ainda iremos viver? Isso leva a duas outras boas reflexões.

A primeira sobre as oportunidades que temos todos os dias e não nos damos conta, sobre como estamos orientando a nossa vida hoje. Se estamos levando uma vida coerente com o que nos faz verdadeiramente feliz? Se não, o que podemos mudar? Como?

A outra reflexão é sobre o controle. Vivemos em uma época na qual estamos sempre alertas, estamos com tantas responsabilidades que às vezes nos sobrecarregamos e pesamos demais as situações, nos sentimos culpados por qualquer coisa que saia do controle. Somos responsáveis por muitas coisas sim, mas é importante estar consciente que não controlamos tudo, sobretudo pessoas e relacionamentos. Existe algo da ordem do imprevisto, que simplesmente não controlamos mesmo que desejemos. A questão é como lidamos com aquilo que não podemos controlar. Como tirar o melhor daquilo que é incontrolável. Essa reflexão cabe a cada um individualmente.

  1. A autonomia da família.

No filme um dos maiores problemas de Hazel é como a família irá viver quando ela morrer.  Também na vida real, os pais que tem um filho com uma séria dificuldade de saúde, ou comportamento, tem a tendência a direcionarem totalmente a sua vida para aquele filho que precisa de cuidados. Essa dedicação exclusiva dos pais pesava muito na vida de Hazel que se sentia responsável pela felicidade ou sofrimento deles, ela temia o caos que poderia provocar em sua família. Quando ela tem a oportunidade de falar disso com os pais, a mãe revela que estava iniciando uma faculdade e que estava fazendo planos para um trabalho futuro, ajudar outras famílias que vivem a mesma dificuldade. Isso se torna um alívio para a protagonista e faz com que a família se aproxime ainda mais. Na vida real esse aprendizado pode ser muito útil. Quando os membros da família podem conversar sobre seus medos novas formas de superação aparecem. A família que consegue fazer planos e incluir outras perspectivas em sua vida, que não estejam exclusivamente ligadas aos filhos, como: um novo trabalho, estudo, novos amigos, algum hobby, etc. Ganham um futuro e um sentido de vida, reescrevem sua identidade e vivem mais felizes.

Marcela Pavan é Psicóloga Clínica. Analista Junguiana e especialista em Família e Casal pela PUC-Rio. Trabalha com questões ligadas a relacionamentos, bem estar, felicidade, conflitos pessoais, ansiedade, depressão, entre outras. Atendimento online: www.acaminhodamudanca.com.br. Consultório: Largo do Machado – R.J. 

Contato: marcelapimentapavan@gmail.com

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